domingo, 7 de dezembro de 2014

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Vereadora Amanda Gurgel desabafa e revela bastidores da situação em Natal

A vereadora Amanda Gurgel, mais votada em 2012 na capital, disse no plenário da CMN que seus projetos são barrados nas comissões e as matérias aprovadas jamais são implantadas pelo Executivo local, e outros problemas que a única parlamentar do PSTU afirma enfrentar.

Isso mesmo, “enfrentar”, não “sofrer”. Afinal, em entrevista concedida a O Jornal de Hoje, Amanda Gurgel deixa claro que não está desmotivada, apesar das dificuldades do trabalho. Até porque, “era isso que ela esperava encontrar na Câmara Municipal”.

Contudo, na entrevista ao JH, não foi só isso que Amanda comentou. Ela também criticou a gestão Carlos Eduardo e não descartou ser candidata a prefeita na próxima eleição, em 2016. Falou ainda da Operação Impacto e do fato do clima na Câmara ter continuado “normal”, apesar de ter atingido três vereadores – um deles, Júlio Protásio, líder do prefeito na Casa.


Jornal de Hoje: Após dois anos, como avalia o trabalho do seu mandato na Câmara?

Amanda Gurgel: A gente faz um balanço muito positivo do mandato. Apesar de ser um mandato de oposição declarado, que não vamos compactuar com essas políticas que são apresentadas por Carlos Eduardo, como por ocasião da Lei Orçamentária Anual, em que aparece prioridade para todos os lados, para píer, para marina, para decoração natalina, enquanto os serviços continuam precários. Não. Vamos continuar na oposição e apresentando os nossos projetos e nem vamos solicitar aos vereadores que dêem os votos favoráveis a esses projetos, como o que garante o afastamento remunerado as mulheres que forem vítimas de violência machista. Esse foi o único projeto nosso que entrou na pauta, porque os demais estão paralisados, engavetados.

JH: Tem projetos seus engavetados?

AG: Vários! A gente fez uma listinha. Tem 17. Mas, mesmo assim, com muita pressão, essa batalha que a gente faz no cotidiano, nós conseguimos aprovar esse projeto. No ano passado, nos tivemos uma preposição que importante demais e que, no final das contas, se concretizou por um projeto do governo, que foi o passe livre. Todos sabem que foi uma iniciativa nossa, que nós que fizemos essa campanha com a energia de quem sabe que esse é um direito que, realmente, a juventude precisa. Neste ano nos aprovamos também no plano plurianual que todos os anos haverá um investimento de 30%, no mínimo, da receita do Município em educação. Além das lutas dos trabalhadores. Todas as categorias que se manifestam, os artistas, os servidores públicos, os estudantes, nos colocamos a disposição.

JH: Como se manter motivada diante do fato de que dois terços da Câmara apóiam o prefeito e você é uma vereadora de oposição?

AG: É difícil. Mas a minha motivação é o fato de fazer questão de não ficar no gabinete. Eu faço questão disso. E às vezes as pessoas dizem “ah, você não está no gabinete”. E não estou mesmo. Eu faço questão de sentir as pessoas. E na campanha, eu já dizia isso: eu sei que meus projetos não vão ser aprovados, eu sei que meus projetos vão ser boicotados, mas nós vamos exigir. Não é porque vão fazer de tudo para boicotar, para não aprovar, que não vamos exigir, mobilizar as pessoas, dizer que esse mandato não é de Amanda Gurgel e de todas as pessoas. E eu já disse isso na Câmara, até alguns vereadores ficaram ressentidos, eu posso ser minoria na Câmara, mas eu sei que fora dela eu não sou. Sou maioria. Sou muito maioria. O reconhecimento das pessoas é isso que importa. Eu não estou na Câmara para fazer um acordo, para votar no projeto de um para ter o voto dele no meu. Voto num projeto porque é importante para a população. Apresento os que acham que são importantes e eles serão aprovados a medida que os vereadores estiverem comprometidos com a população ou não. Se eles não estão, o que é que eu posso fazer? Estou mostrando para a população: “está aqui, minha iniciativa e tudo estou fazendo, mas os vereadores dificultam as coisas”. A maioria deles.

JH: Como você analisa a participação de Simone Dutra, do PSTU, na disputa eleitoral deste ano. Muitos disseram que você seria melhor candidata que ela…

AG: Muitas pessoas fizeram essa comparação, mas eu acho que a candidatura de Simone foi muito importante, para que possamos demarcar, de fato, o que nós pensamos para o governo do Estado. Simone passou a campanha inteira dizendo que Henrique e nem Robinson resolveriam o problema do RN. E já teve uma matéria com o vice eleito dizendo que talvez fosse necessário ter medidas antipáticas para garantir a sustentabilidade do Governo. Que medidas antipáticas são essas? Ele não disse isso na campanha. Pelo contrário. Na campanha ele foi o tempo todo bem simpático. Nós dizemos que era necessário ter outra lógica para o Governo, que não estivesse endividado até a cabeça pela execução de obras desnecessárias, como a do aeroporto de São Gonçalo do Amarante. Fizemos a nossa campanha sem receber um centavo sequer de empresas, para depois elas não virem cobrar as faturas, como vemos agora com essa operação Lava Jato. Mesmo que nós também não achássemos que Simone seria eleita, não tínhamos essa avaliação, mas fizemos a campanha dentro das possibilidades para isso.

JH: Você acha que houve um crescimento da esquerda no RN?

AG: Esse sentimento de indignação e revolta que a população tem com a política, esse sentimento é canalizado para esquerda, porque as pessoas são muito revoltadas com a política, mas quando ela se vê de frente para a urna, ela vota. As pessoas estão vendo isso na prática, porque os exemplos que elas tiveram com o PT foi um exemplo muito negativo. Muita gente se decepcionou, se frustrou, se desiludiu e desistiu totalmente de política. Muita gente se desiludiu a partir da ocupação do PT dos espaços institucionais, do poder Executivo e também no Legislativo. E acho que o nosso partido cumpre esse papel, de mostrar que é possível, de mostrar que é importante que nos tenhamos outros parlamentares desse jeito, do PSTU, da esquerda.

JH: Você se arrependeu de não ter sido candidata?

AG: Não, não me arrependo. Fizemos uma discussão e, justamente, por esse papel que o mandato tem cumprido em Natal, que é um papel também pedagógico e educativo de mostrar que um mandato revolucionário é assim, nós precisávamos dar essa continuidade. Se eu tivesse sido candidata, eu não teria como dar esse acompanhamento que eu estou dando, por exemplo, aos professores, na questão da gestão democrática de das carreiras.

JH: E para 2016, você pensa em ser candidata a prefeita de Natal?

AG: Para 2016 a gente ainda não começou a discussão. A gente ainda não começou, justamente, porque tem muita coisa acontecendo. Esta semana mesmo a gente estava numa discussão sobre uma questão importante para a saúde na Lei Orçamentária Anual. Então, a gente ainda não conseguiu ainda parar para pensar sobre isso (sobre a eleição de 2016), mas a gente vai pensar e vai ter resposta para isso, com certeza.

JH: Você seria candidata a prefeita de Natal pelo PSTU?

AG: Não sei. A gente não está cogitando, ainda, essa possibilidade. Então, realmente, francamente, não sei. Ainda não tenho uma resposta para isso.

JH: Muitos vereadores, no primeiro mandato, se desiludem um pouco com o trabalho do Legislativo e pensa até em não se candidatar mais. Você já viveu isso?

AG: Tem alguns vereadores desiludidos. No meu caso eu não me desiludi porque eu não tinha ilusão. Desde a campanha eu já dizia: gente, olhe, tudo que for preciso fazer na Câmara, nós precisaremos de vocês. Eu não quero só seu voto não. Não quero que vocês me deixem vereadora sozinha não. Se você vai votar em mim, venha ser vereador junto comigo. Eu cheguei ali sabendo que iria ser difícil, que não iria aprovar projetos como quem compra um chocolate, entendeu? Mas também que não é disso aqui que a vida das pessoas depende para ser diferente. Depende das próprias pessoas estarem mobilidades e envolvidas para as suas reivindicações.

JH: E sobre a corrupção da Operação Impacto?

A Operação Impacto não é novidade. É apenas mais uma operação. E nós temos muito claro como deve ser tratada a corrupção no nosso país. Defendemos que os corruptos sejam presos. Corrupto é ladrão, igual a qualquer outro. Certo? É ladrão. E outra coisa: é um ladrão mais perigoso, porque cada ação dele, cada pequeno ou grande crime, isso traz repercussão para a vida de todo mundo. De uma população inteira. Uma população que precisa da saúde, da educação, da iluminação pública, do transporte. Essas pessoas são diretamente afetada por causa dos corruptos. Não merecem perdão os corruptos. Ele precisa ser preso, devolver cada centavo que ele retirou ou que ele recebeu indevidamente, mesmo que não seja dos cofres públicos, como foi nesse caso da Operação Impacto. Isso passou a ser um recurso público, porque por causa disso ele passa a interferir na vida de milhares de pessoas.

JH: Como a senhora avalia a gestão de Carlos Eduardo na Prefeitura de Natal?

Acho que está um pouquinho pior do que a gente previa, porque como ele trazia esse discurso popular de combate à corrupção, a terceirização, nós sabíamos que não seria assim. Foi surpreendente nesse aspecto. Nós sabíamos que não seria um governo para os trabalhadores e para os pobres, mas não sabíamos que seria tanto. A reforma administrativa, por exemplo, eu não esperava que propusesse esse aumento para os comissionados e que batesse o pé, inclusive toda a bancada do prefeito, alguns populares, que defende as comunidades, dizer que faz 10 anos que eles não recebiam aumento e, por isso, mereciam aumentar de R$ 5 mil para R$ 8 mil, enquanto muitos efetivos ganham um salário mínimo. Então eu pensei: meu Deus, ele está corajoso e, com isso, mostra com isso qual a linha do governo dele. A linha da contratação temporária, precária, a linha da terceirização, a linha de acabar com o serviço público. De, cada vez mais, fazer parceria com o privado, de contratar escola, hospital privado, é essa a política de Carlos Eduardo.

Jornal de Hoje

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