"A gente começou estudando a saliva de carrapato em busca de anticoagulantes", explica Ana Marisa. "Como o carrapato é um hematófago, que suga sangue para viver, ele deve ter algo na saliva que impeça a coagulação - e era isso que estávamos buscando", completa.
Em outras palavras, Dra. Ana Marisa e sua equipe escolheram um gene e o reproduziram para que, em uma bactéria, ele passasse a expressar e proteína recombinante desejada. Ao estudar o que havia criado, eles não só constataram que a proteína realmente era capaz de inibir a coagulação, como descobriram referências de que ela interferia na proliferação celular.
O próximo passo foi testar essa proteína em células normais e células tumorais, e foi aí que as descobertas realmente surpreenderam os pesquisadores. "Nas células normais a proteína não induziu nada, em compensação, nas células tumorais, ela causou uma atividade tóxica que levava à morte", diz a cientista.
"Vimos que essa proteína tem um alvo celular: ela induz a célula a uma morte programada, pois tem uma série de sinalizações que inibem a transcrição para o núcleo", explica Ana Marisa. Incapazes de se reproduzir ou realizar suas funções básicas, as células cancerígenas morrem.
Apesar das grandes implicações científicas, o estudo agora se encontra em um impasse. O que a equipe fez até agora se chama prova de conceito, e resume basicamente todos os testes possíveis realizados em laboratório.
No entanto, para descobrir se o tratamento funciona em humanos, é necessário passar por uma série de experimentações chamadas análises pré clinicas. "Aqui no Brasil, por uma questão histórica, a indústria farmacêutica não investe nesse tipo de tecnologia por um motivo simples: insegurança jurídica", diz.
A pesquisadora explica que as descobertas feitas nas instituições públicas são amarradas por lei, o que torna difícil a relação entre público e privado no país. "Estamos trabalhando nisso há seis anos. Já teríamos tempo para dizer se essa técnica funciona ou não em humanos, pois há dinheiro e gente interessada. Não fizemos por conta da questão jurídica", diz.
Ana Marisa Chudzinski Tavassi, no entanto, não acredita que exista um culpado pela demora. Determinada a resolver o impasse, ela afirma que sua equipe está tentando solucionar as questões jurídicas para "tornar essa relação público/privado simples, boa, e de ganho para todos".
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