quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

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Ex-catadores do antigo lixão de Caicó contam como melhoraram de vida

Analisando cruamente, é apenas lixo separado por tipo – plástico, vidro ou papel, nada muito importante. Mas para as 11 famílias da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Caicó (Ascamarca), aquele amontoado de entulho significa trabalho, dignidade e futuro. Em cada folha de papelão ou sacola plástica coletada, um sonho que vai para a reciclagem, uma nova perspectiva que surge.

O sorriso largo da jovem caicoense Moana Nunes da Silva esconde uma história difícil. Aos seis anos de idade, foi levada por sua mãe ao lixão, lugar que frequentou ininterruptamente pelos 12 anos que se seguiram. Cresceu longe dos livros, das bonecas e das brincadeiras de meninas. Filha única, foi obrigada a ajudar no árduo trabalho de tirar do lixo o pão de cada dia. “Só era eu e minha mãe. Meu pai me abandonou quando eu ainda era criança e nunca mais deu notícias”, explicou ela, agora com 19 anos de idade. Num rotina árdua, passava cerca de 15 dias direto no lixão, coletando o máximo de material. Na outra metade do mês, vendia tudo o que era coletado a atravessadores, que compravam o material a preços baixíssimos. 


A menina Moana cresceu sobre os resíduos sólidos, imersa em riscos e afogada em sonhos que pareciam inalcançáveis. “Muitas vezes eu já me furei em agulhas de hospital, mas graças a Deus nunca adoeci. Fiz até exames uma vez pra saber se tinha alguma coisa”, comentou. De domingo a domingo enfrentou o sol forte do Seridó e resistiu sem muitas sequelas aparentes na pele. Hoje a realidade é outra. E as lembranças trazidas a tona pelos questionamentos do repórter, não são mais prioridade nos pensamentos da jovem. “Está tudo muito melhor. O lixão foi fechado e a gente pega o material reciclado hoje na porta das casas, com farda e todo o equipamento de segurança”, explicou. Com a nova rotina, a jovem de corpo esguio alimenta um grande sonho: ser modelo. 

A beleza negra da catadora destoa naquele cenário de entulhos, como uma composição de Bach no Carnaval de Salvador. Mesmo com roupas folgadas e cabelos escondidos em um boné, os traços delicados – e muito fortes - da garota com nome de princesa da Disney conseguiram chamar a atenção das várias equipes de reportagem que foram ao armazém da associação, acompanhados pelos técnicos do Projeto RN Sustentável. “Já me disseram que eu tenho perfil de modelo e eu até já participei do concurso Gatos e Gatas, daqui mesmo, mas não ganhei”, relatou, realçando ainda que também já foi convidada para fazer um book profissional. 

Moana sonha alto, mas não despreza seu ofício atual. “Eu gosto do que faço, mas ninguém quer trabalhar com isso a vida toda”, disse emocionada, ao lembrar como era tratada quando começou a pegar o material reciclado de porta em porta. “Muitas pessoas brigavam com a gente, botavam a gente pra correr”. Na lista de sonhos, antes dispersos em meio a toneladas de lixo, Moana também espera concluir os estudos. 

Novo Jornal 

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Um comentário:

  1. QUE LINDO .
    BEM QUE PODERIA FAZER UM DIA DA PRINCESA MOANA .


    DATIANE - VILA ALTIVA

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